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Zeca Camargo, a cobertura da imprensa e a falta que Cristiano Araújo faz

“Opinião: cada um tem a sua”, quem nunca ouviu essa frase?

Sempre que existe um grande movimento a favor de algo, um grande artista, ídolo, ou uma grande comoção, você tem três opções de posição a adotar. A primeira é seguir o movimento. A segunda, ficar em cima do muro. E a terceira posição é ser contra. Especificamente, se você quer ganhar muita atenção e gerar comentários, talvez o caminho “mais fácil” seja “ser contra”.

Em crônica exibida no Jornal das 10, da GloboNews, neste domingo (28), o jornalista Zeca Camargo aproveitou a comoção pela morte de Cristiano Araújo, na última quarta-feira (24), para nadar contra a maré. Criticou a música sertaneja, a cobertura da televisão, dentre elas, a própria Globo, e a comoção pelo acidente que vitimou o cantor e sua namorada, Allana Moraes.

Zeca afirmou que “de uma hora para outra, fãs e pessoas que não tinham ideia de quem era Cristiano Araújo partiram para o abraço coletivo”. Dizendo não saber que Cristiano Araújo tinha tantos fãs, Zeca ironizou uma suposta necessidade do brasileiro de precisar de uma tragédia para se unir, fazendo uma analogia com o acidente, a falta de heróis atuais e livros de colorir.

Precisamos de novos heróis, mas estão todos ocupados pintando jardins secretos”, disse ele, que associou o estilo sertanejo como um todo a uma suposta falta de cultura da sociedade atual.

Já no fim da crônica, o jornalista questiona o valor dos sucessos instantâneos. “O cantor talvez tenha morrido cedo demais para provar que tinha potencial para se tornar uma paixão nacional, como tantos casos recentes. Nossa canção popular é hoje dominada por revelações de uma música só, que se entregam a uma alucinada agenda de shows para gerar um bom dinheiro antes que a faísca desse sucesso singular apague sem deixar uma chama mais duradoura. E nesse cenário qualquer um pode, nem que seja por um dia, ser uma estrela maior. Teria sido esse o caso de Cristiano Araújo?”. E arrematou: “Nossa história musical e mesmo o passado recente prova que temos tudo para adorarmos ídolos de verdade e para chorar de verdade”.

O comentário ácido não agradou o meio sertanejo. No Instagram, diversos artistas se juntaram aos fãs do estilo musical para protestar contra o jornalista. Usando a tag #QuemÉZecaCamargo, nomes como Sorocaba, Mariano e Israel Novaes publicaram fotos tampando os ouvidos.

Música popular brasileira

A comoção nacional com a morte de Cristiano Araújo só nos mostra que a música sertaneja é cada vez mais a atual música popular brasileira. Talvez, se Zeca entrasse mais no mundo sertanejo e estudasse os grandes sucessos e a importância do cantor para a cultura sertaneja, ele não teria escrito tais palavras. Principalmente o final. Em uma rápida pesquisa no Google, ele poderia ver que Cristiano não é “revelação de uma música só”. E se aprofundasse, buscando o ranking das músicas mais tocadas no país, veria que a chama do cantor é mais forte que ele pensa.

Ainda sobre a cobertura da imprensa, de maneira geral, muito me assusta o foco na música “Bará Berê”. Talvez, esse seja um dos menores (e mais passageiros) sucessos de Cristiano. Por outro lado, é compreensível por ser uma das músicas que o destacou fora do “eixo sertanejo”.

Como dito no início, “opinião: cada um tem a sua…”. Cada pessoa tem valores e formas de pensar diferentes da nossa. Respeitamos, apesar de não concordarmos, as palavras do jornalista. Mas dizer que música sertaneja não é cultura beira ao absurdo.

Cristiano, ao contrário de alguns artistas em evidência na música, não abria mão de seu estilo e mostrava, a todo instante suas origens em sua arte. Hoje em dia, o sertanejo (pós-universitário, rsrs) está cada vez mais pop e menos sertanejo. Talvez pela visibilidade de mercado e a falta de novos grandes nomes da música pop nacional, talvez pela influência de alguns produtores. Esse é um assunto complexo, que renderia muitos posts.

Com Cristiano era ao contrário. Sua música, mesmo não estando ligada diretamente ao sertanejo raiz, não foge do estilo. Não é pop demais, nem besteirol demais, nem raiz demais. É algo como o que o “sertanejo universitário” tentou ser e logo foi mudando de cara. Sem sombra de dúvidas, o trabalho do senhor João Reis de Araújo, pai do cantor, de criar o filho para ser um bom artista, foi realizado com sucesso. Cristiano já faz e ainda fará muita falta para a cultura brasileira.

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